terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Uma pilha de interrogações

Se eu não estivesse aqui, nesse tempo, nesse momento, onde eu estaria? Se eu pudesse escolher, sabendo o que sei, escolheria não ter sofrido e com isso talvez não ter aprendido? Escolheria não amar intensamente as pessoas que já não fazem mais parte da minha vida? Mas me pergunto ainda, seria melhor não saborear? Não deixar que meu corpo sentisse a deliciosa sensação de queda livre num sentimento momentâneo que pareceu eterno em seu pleno e curto existir?
São todas interrogações bobas, que não me levam a nada, mas que trazem essa doce dorzinha de saudade e um sentimento de satisfação por ter vivido o que menciono apenas dentro das paredes dos meus pensamentos (sem juízo).
Eu tenho bem guardadinhos aqui, as embalagens dos doces, amargos, apimentados e quentes momentos que me moldaram e que me arrancam algumas lágrimas, alguns risinhos mas muitas sensações misturadas que me fazem ficar perdido e contemplativo, que dão mais gosto ao café e tiram a concentração, porque todos foram momentos em que estive espalhado, compartilhado, exposto...

Um sorriso e um olhar vago.

Demorado, esperando, desejado
De todas as coisas com urgência de realizar
Se torna mais crucial o disfarçar, o encobrir
Mas de todos os seres aprisionáveis,
Ficam mais fortes os seus desejos insondáveis.
Revelem-se pouco, realizem-se nada,
Fique latente os mais intensos e reprimidos
Sentimentos escondidos
O inevitável é cruzar a linha
pois muito forte é aquilo que se aninha
no fundo de um coração que se desalinha.
Vem o proibido, vem o isano
vem o desmedido e tão explosivo
desejo ocultado, considerado proibido
Abraços ardentes, beijos sedentos
movimento de corpos suados e lentos.
Fortes, compassados, ofegantes, infinitos.
Corações que batem tão fortes que chegam a ameaçar
de uma hora para outra sem mais nem menos parar.
Mas é o que é, talvez assim pra sempre será
Se desfazem os abraços, se separam os laços,
voltam a ser
demorados, esperados, desejados, por um momento saciados.
Mas na verdade ficam guardados, e insistem em inundar
pensamentos que é sempre melhor ocultar
e que num cantinho da boca trazem de volta
um sabor de mel e uma lembrança que arranca um discreto sorriso.